Antes da chegada dos técnicos da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação do governo de São Paulo na comunidade, uma reunião estava sendo realizada com representantes dos moradores, num ponto da CDHU, próximo do local.

Reunião sem acordo

O governo avisou que as demolições começariam, mas não houve acordo. Os representantes de associações disseram ainda que não poderiam garantir que os imóveis desocupados e lacrados antes da demolição ficariam preservados, sem invasões.

Mesmo diante do ime, o governo mobilizou as máquinas. Mas só conseguiu derrubar seis casas. A CNN recebeu fotos de uma dessas casas, que já tinha tido as paredes de tijolo construídas para bloquear o imóvel, violadas.

Protesto com fogo

Por volta das cinco horas da tarde, mesmo com os trabalhos de demolição já interrompidos, um grupo de pessoas colocou fogo em trilhos de trem na região. À CNN, fontes que participam das negociações apontaram que o movimento tinha sido provocado pelos traficantes.

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QG do PCC

Até agora, 168 famílias já deixaram o local, tido como 'QG' da filial do PCC que comanda a cracolândia. Esvaziar a área é uma das metas para drenar o fluxo de usuários no centro da capital paulista.

Fontes do Ministério Público afirmam que o PCC transformou o Moinho numa área relevante depois da expansão dos negócios criminosos da família Moja. Os três irmãos, Jeferson, Alberto e Leonardo Moja estão presos. O último, também chamado de "Leo do Moinho", seria o comandante do tráfico no local.

A "simbiose criminosa" entre Moinho e cracolândia, teria começado com um ferro-velho, que desmanchava carros roubados, e se expandiu para uma rede de hotéis usados como bunkers do tráfico e até mesmo pontos de prostituição infantil.

Em um dos depoimentos, uma testemunha protegida disse que o tráfico categorizava os hotéis - que serviam como praças de uso livre de drogas - por renda, de modo que o abuso das substâncias químicas era franqueado às pessoas por classe de renda.

Moradores como reféns do crime

O MP, inclusive, avalia que o projeto da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) atenderia interesses dos moradores, que querem deixar de serem "reféns do crime" e migrar para uma área que não tenha dominação do tráfico.

Os números do governo corroboram a tese. A gestão Tarcísio afirma que 752 famílias já aderiram ao reassentamento, o que representa 88% do total. O movimento começou no dia 22 de abril e, destas, 548 famílias já escolheram, inclusive, o imóvel de destino.

PM pode escoltar demolições

Escalado para cuidar da cracolândia, o vice-governador Felício Ramuth (PSD), disse à CNN, que os trabalhos de demolição vão continuar, nem que seja preciso levar a Polícia Militar ao local para escoltar as equipes do governo.

"Vamos retomar as demolições, se necessário com uma presença ostensiva da polícia. Mais de 88% dos moradores já aceitaram as propostas do CDHU que mostra que estamos no caminho certo pra oferecer dignidade para as famílias", disse.

A CNN apurou que os comerciantes que atuam no local também já tiveram a primeira reunião com representantes do governo e da prefeitura e que as negociações para buscar uma indenização para que eles sejam realocados estão avançadas.

Os trabalhos de demolição podem ser retomados já nesta terça-feira (13).