Na trama, após algumas buscas online, o personagem se entendeu como assexual. Diferente da versão original, em que a a sexualidade não foi abordada, agora o termo ganha força, sendo aprofundado na obra de Manuela Dias. A ideia é trazer clareza e debater o assunto que, por diversas vezes, leva a alguns enganos rapidamente propagados.

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Afinal, o que é ser assexual?

À CNN, o médico, psiquiatra e comunicador Jairo Bouer explica que a assexualidade diz respeito a orientação sexual, onde uma pessoa não sente atração sexual por outras pessoas, ou sente esse desejo de maneira não tão importante.

"Não é uma questão ligada aos outros, é particular. Isso não significa que ela não possa ter relacionamentos, sentir afetos ou emoções, mas a experiência sexual não é um fato preponderante nas relações dela. A assexualidade é sim uma orientação sexual válida como qualquer outra, e faz parte da diversidade da sexualidade humana", conta.

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— ARTH (@eolorr) June 11, 2025

Assexual ou assexuado?

Embora o termo assexual seja confundido com assexuado, os significados são completamente diferentes. Assexuado descreve a falta de órgãos sexuais ou características sexuais primarias. Além de seres humanos, a definição ainda se estende, por exemplo, a plantas ou animais, que não se reproduzem por meio da reprodução sexual.

"Assexuado é patológico. Assexual é orientação. A pessoa nasce assim, ela não escolhe ser assexual, não tem relação com traumas ou nada disso", garante a sexóloga clínica e psicanalista Lelah Monteiro à CNN.

Mais do que a característica principal de não sentir desejo ou atração sexual, é importante pontuar que dentro do cenário das experiências humanas, há assexuais com interesse zero em sexo e que nunca pensaram no assunto. Outros, no entanto, pensam e sentem atração, segundo Jairo.

"Há aqueles que podem até topar uma experiência por curiosidade, pressão ou acordo com o parceiro. Mas esse não é o principal componente da vida deles, ou o componente que define o relacionamento. A relação que essas pessoas têm com o sexo e com o desejo é diferente da relação que a maior parte das pessoas sentem tem", reforça.

Diversidade na assexualidade

Outro ponto de destaque dentro da assexualidade está em não relacioná-la a falta de desejo por relacionamentos românticos. Muitos podem experimentar a atração romântica, se envolvendo em relações que não incluam a atividade sexual.

"Um assexual romântico é alguém que, apesar de não sentir atração sexual, sente desejo e vontade de viver uma relação, de se apaixonar, de se casar, de ter um vínculo afetivo e romântico com outra pessoa. Já o assexual arromântico, além de não sentir atração sexual, também não sentem atração afetiva e romântico. Não tem vontade de se envolver em nenhum tipo de relacionamento", explica Bouer.

"É importante entender que a descoberta da assexualidade não é algo da noite para o dia, não é tão óbvia assim. A pessoa precisa ar por algumas experiências, entrar em contato com suas emoções e desejos para entender o que está acontecendo com ela. É necessário se questionar, por exemplo: 'Será que sinto atração sexual por outra pessoa? Isso é frequente ou não? É intenso ou não? Será que eu tive vontade de fazer sexo mesmo ou quando eu topei, se é que eu topei, foi por pressão ou por curiosidade? Ou até um acordo? Eu me sinto confortável e bem em fazer sexo?'", adiciona.

Traumas versus assexualidade

Lelah conta que uma pessoa assexual nunca quer ter uma relação sexual com alguém. "Não é alguém que tinha uma relação, que tinha um desejo, uma atração, e depois ou a não ter. O assexual nunca teve esse interesse. Essa é a questão. Não é que começou a ter uma vida sexual, ficou desencantada e se traumatizou. O assexual não é aquela pessoa que teve abuso, não é a pessoa que teve uma vida sexual dolorida, sofrida".

Enquanto isso, Jairo acrescenta ainda que, na contramão, pessoas com históricos traumáticos e atividades sexuais ruins, por exemplo, podem evitar novas experiências como uma espécie de sintoma, de alguma dificuldade, de algo que precisam tratar ou endereçar.

"Vítimas de abuso sexual, de violência, podem vivenciar esse trauma de tal forma que não desejam mais ar por aquilo novamente. Elas não querem reviver aquela situação. Por isso, podem evitar o sexo. Mas isso é diferente de alguém que é assexual. O assexual não ou por uma experiência traumática, ele não tem uma questão psicológica ou a urgência de resolver uma questão psíquica. Ele é uma pessoa que simplesmente não sente atração e isso faz parte da sua orientação sexual, da sua identidade".

"Na maior parte das vezes, está tudo bem não sentir essa atração. Ele não tem dor, angustia ou sofrimento. Às vezes ele pode até se questionar sobre isso mas por conta da pressão externa. Mas para ele não faz parte do repertório", conclui.

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